quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Teorias da aprendizagem

Teorias da Aprendizagem

Existe uma infinidade de tipos diferentes de aprendizagem. O que diferencia uma aprendizagem de outra diz respeito ao modo como cada uma se manifesta e ao próprio processo como cada uma é adquirida. Uma aprendizagem é sempre uma aquisição, embora as explicações para essa aquisição sejam variadas e muitas delas até contraditórias.

O fenômeno da aprendizagem é sempre algo concreto, e acontece mesmo que ninguém tenha interesse em explicá-lo. A aprendizagem existe independentemente das diversas teorias que procuram entendê-la quer descrevendo suas características, quer propondo elementos para que possa vir a ser repetida.

As teorias da aprendizagem são elaboradas devido à insistência de pesquisadores que, observando fatos reais de aprendizagens, levantam suas hipóteses e procuram sua verificação para, então, enunciarem uma teoria que contribua para o progresso científico. Cabe aqui a lembrança de que a função da ciência, de modo geral, consiste em facilitar e melhorar a vida do homem.

Na maioria das vezes, as teorias da aprendizagem são estudadas de maneira fragmentada, ou seja, trabalhando-se ora um autor, ora outro, e nunca todos juntos de forma a permitir comparações entre uma teoria e outra. Visando auxiliar em tarefas dessa natureza, este texto pretende justamente abordar num mesmo documento os principais autores que representam os dois grandes grupos teóricos relativos à aprendizagem: o das teorias comportamentais e o das teorias cognitivas.

Na medida do possível, foram evitados termos técnicos que assustariam qualquer leitor mesmo da área da educação. Não há necessidade de aprofundar estudos acerca de como ocorre ou deixa de ocorrer qualquer aprendizagem, mas conhecer ao menos superficialmente os fundamentos teóricos de cada linha ajuda bastante qualquer profissional que desenvolva processos de ensino e aprendizagem nos dias de hoje, sobretudo devido à exigência constante de se ter que improvisar e alterar planos a todo instante, a fim de poder acompanhar as mudanças.

Segue abaixo um resumo das características de cada teoria da aprendizagem, destacando os pontos considerados relevantes pelos pesquisadores responsáveis por cada enunciado:

Teorias Comportamentais

1. Pavlov
2. Skinner
3. Bandura

Teorias Cognitivas

1. Gestalt
2. Jean Piaget
3. Jerome Bruner
4. Lev Vygotsky
5. Howard GardnerTeorias Comportamentais




1. Ivan Pavlov (1849-1936)
Médico nascido na Rússia central, foi o descobridor dos comportamentos que são reflexos condicionados. Publicou em 1903 os resultados de estudos realizados no campo da fisiologia, com cães de laboratório, provando que o chamado fenômeno “reflexo condicionado” podia ser adquirido por experiência. Esse processo passou a ser designado “condicionamento”.

Ao estudar os cães, descobriu casualmente que certos sinais provocavam a salivação e a secreção estomacal no animal, reação esta que só deveria ocorrer quando houvesse ingestão de alimento. Teorizou que o comportamento estava condicionado a esses sinais que habitualmente precediam a chegada do alimento, levando o cão a antecipar seus reflexos alimentares.

2. B.F.Skinner (1904-1990)

Nascido em Susquehanna, no estado norte-americano da Pensilvânia, cursou Psicologia em Harvard, onde tomou contato com o behaviorismo. Paralelamente à produção de livros, por vários anos dedicou-se a experiências com ratos e pombos.

O método que desenvolveu para observar os animais de laboratório e suas reações aos estímulos, levou-o a criar pequenos ambientes fechados que ficaram conhecidos como “caixas de Skinner”, posteriormente adotadas pela indústria farmacêutica. Quando nasceu sua filha, Skinner criou um berço climatizado, o que originou um boato de que a teria submetido a experiências semelhantes às que realizava em laboratório.

Como exemplo, podemos citar o caso do rato faminto que, numa experiência, percebe que o acionar de uma alavanca levará ao recebimento de comida. Assim, a cada vez que quiser saciar sua fome, o rato tenderá a repetir o movimento de acionar a alavanca.



3. Albert Bandura (1925...)
Psicólogo nascido numa pequena cidade do Canadá, desenvolveu estudos sobre a aquisição da aprendizagem, realizando experimentos a partir dos princípios do condicionamento operante (de Skinner). Observou que o reforço não precisa ser necessariamente oferecido ao sujeito que emitiu a resposta, isto é, um reforço recebido por um determinado aluno numa classe, por exemplo, pode ter um efeito sobre os demais que passarão a imitá-lo, com o objetivo de também receberem o mesmo reforço.

A transferência também costuma ser reduzida, pelo fato de que a ampliação do comportamento adquirido fica limitado e restrito a outras situações vicariantes. Mais uma vez, caberá ao professor ou treinador, conforme o contexto ou situação, optar ou não por fazer uso de práticas pedagógicas restritas a condicionamentos vicariantes ou de outros tipos.



Teorias Cognitivas



1. Gestalt

Gestalt é o nome genérico que engloba as teorias cognitivas que resultaram, principalmente, das pesquisas de Wertheimer (1880-1943), Kofka (1896-1941), Köhler (1887-1947) e Kurt Lewin (1890-1947). Trata-se de um movimento visando buscar respostas científicas para as indagações sobre o processo de conhecimento e, ao mesmo tempo, oferecer uma reação às teorias de condicionamento, analisando os efeitos da percepção.
A aplicabilidade da Gestalt na educação torna-se importante, à medida que recusa-se o exercício mecânico no processo de aprendizagem. Apenas as situações que ocasionam experiências ricas e variadas levam o indivíduo ao amadurecimento e à emergência do insight. Segundo as explicações da Gestalt, os três elementos primordiais da aprendizagem são: aquisição, retenção e transferência.


2. Jean Piaget (1896-1980)

Biólogo nascido em Neuchâtel, Suiça, estudou o processo de construção do conhecimento e a evolução do pensamento até a adolescência, procurando entender os mecanismos mentais que o indivíduo utiliza para captar o mundo. Centrou seus estudos no pensamento lógico-matemático.

Até o início do século XX, a criança era tratada como um adulto em miniatura, isto é, como se pensasse e raciocinasse da mesma maneira que os adultos. A maior parte da sociedade acreditava que qualquer diferença entre os processos cognitivos entre crianças e adultos era sobretudo de grau, ou seja, os adultos eram superiores mentalmente, da mesma forma que eram fisicamente maiores, mas os processos cognitivos básicos seriam os mesmos ao longo da vida.

A partir da observação cuidadosa de seus próprios filhos e de outras crianças, Piaget concluiu que, em muitas questões cruciais, as crianças não pensam como os adultos, por lhes faltarem certas habilidades. Formulou a teoria do desenvolvimento cognitivo como uma teoria de etapas, já que os seres humanos passam por uma série de mudanças ordenadas e previsíveis.

Os pressupostos básicos da teoria de Piaget são: o interacionismo, a idéia de construtivismo seqüencial e os fatores que interferem no desenvolvimento. É a teoria que mais vem oferecendo contribuições em diferentes ambientes de ensino e aprendizagem nos dias de hoje, principalmente na educação de adultos.

A criança é concebida como um ser dinâmico que a todo momento interage com a realidade, operando ativamente com objetos e pessoas. Tal interação com o ambiente a leva a construir estruturas mentais e adquirir maneiras de fazê-las funcionar.
Segundo a teoria de Piaget, a aprendizagem ocorre por um processo contínuo de construção de estruturas, obedecendo a uma seqüência fixa que pode ser observada na progressão dos períodos cognitivos, os quais são delimitados pelas capacidades mais recentemente construídas, tornando-se cada vez mais complexos em relação aos outros. Os períodos cognitivos são:

1) Sensório-Motor (± 0 a 2 anos)
2) Pré-Operacional (2 a 7/8 anos)
>>> a) Simbólico (2 a 4/5 anos)
>>> b) Intuitivo (4/5 a 7/8 anos)
3) Operacional Concreto (7/8 a 13 anos)
4) Operacional Formal (13/14 anos em diante)


O processo de desenvolvimento é influenciado por fatores como a maturação (crescimento biológico dos órgãos), exercitação (funcionamento dos esquemas e órgãos, o que implica na formação de hábitos), aprendizagem social (aquisição de valores, linguagem, costumes e padrões culturais e sociais) e equilibração (processo de auto-regulação interna do organismo, que se constitui na busca sucessiva de reequilíbrio após cada desequilíbrio sofrido).

A teoria de Piaget, portanto, explica o conhecimento por meio da interação do sujeito com o meio ambiente físico e social, sendo a aprendizagem entendida como a própria adaptação obtida num processo de equilibração e desequilibração constantes. Na prática, trata-se de uma aprendizagem que o indivíduo busca segundo suas próprias capacidades que, por sua vez, são resultantes das estruturas já construídas.

As capacidades não são inatas, mas resultam da interação do sujeito com seu meio. Dessa forma, além da aprendizagem de conteúdos, o indivíduo também aprende a aprender.



3. Jerome Bruner (1915...)
Psicólogo nascido em New York, é um dos mais famosos discípulos de Piaget. Suas idéias são baseadas nos mesmos pressupostos da teoria piagetiana, mas com algumas variações e contribuições próprias, como a intuição e as categorias cognitivas.

Considera a intuição como uma capacidade fundamental de apreensão da realidade em todas as épocas da vida do sujeito, e não apenas um substituto do pensamento lógico, predominante no período anterior aos 7 anos. Segundo Bruner, a criança pode aprender qualquer coisa em qualquer momento, desde que esta coisa lhe seja apresentada de forma honesta.
Segundo a teoria de Bruner:

- Aquisição: acontece principalmente pela intuição do sujeito em relação ao mundo que o rodeia.
Percepção: permite ao indivíduo captar informações e dados novos em geral.

- Categorização: corresponde à inserção do novo em categorias já existentes (de forma semelhante à estruturação piagetiana).

- Retenção: acontece na medida em que o conteúdo intuído e incorporado a uma categoria, passa a fazer parte desta, ficando disponível para ser utilizado posteriormente. A organização da estrutura, também no sentido piagetiano, constitui outro fator de retenção.

- Transferência: é realizada pela possibilidade de novas intuições provocadas pelas estruturas já existentes que, por sua vez, já resultaram de outras intuições num sistema altamente integrado.

Bruner difere de Piaget em relação à linguagem. Para ele, o pensamento da criança evolui com a linguagem e dela depende. Para Piaget, o desenvolvimento da linguagem acontece paralelamente ao do pensamento, caminha em paralelo com a lógica.



4. Lev Vygotsky (1896-1934)
Psicólogo contemporâneo de Piaget, nasceu e viveu na Rússia. Construiu sua teoria tendo por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico, enfatizando nesse desenvolvimento o papel da linguagem e da aprendizagem. A questão central dessa teoria consiste na aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio.
Vygotsky enfatiza,  a construção do conhecimento como uma interação mediada por várias relações, ou seja, o conhecimento não está sendo visto como uma ação do sujeito sobre a realidade, mas pela mediação feita por outros sujeitos. O “outro social” pode apresentar-se por meio de objetos, da organização do ambiente, do mundo cultural que rodeia o indivíduo.
Segundo Vygotsky, o processo de aquisição se faz, então, por meio da mediação simbólica, levando o sujeito a construir sua própria aprendizagem, sendo a linguagem e o pensamento elementos altamente significativos para que a construção ocorra. A retenção é explicada por sua vinculação total ao contexto histórico-sócio-cultural que confere a cada conteúdo uma significação profunda.

5. Howard Gardner (1943...)

Psicólogo nascido na cidade de Scranton, ao nordeste da Pennsylvania, autor da teoria das inteligências múltiplas, é conhecido como o psicólogo que apresentou a cada indivíduo as suas possibilidades numa amplitude maior, relativa à multiplicidade de sua inteligência. De acordo com sua teoria, assim como são diversificadas as inteligências, a aprendizagem também será diversificada, sendo distribuída conforme requisitos especiais, para cada uma das sete modalidades de inteligência que descreveu.
Gardner concentrou seus estudos no desenvolvimento psicológico, devido à atração pela leitura de Jean Piaget e, ainda, pelos seus encontros com Jerome Bruner. Dessa maneira, contagiou-se pelo desenvolvimento cognitivo, demonstrando especial interesse na capacidade do simbologismo humano. As sete inteligências descritas por Gardner e suas principais características são:

a) Lingüística: maior facilidade no manejo das palavras; construção da aprendizagem por associações verbais.

b) Musical: facilidade de percepção e capacidade de discriminação de sons.

c) Lógica-Matemática: relativa às operações típicas do pensamento abstrato, é a forma de inteligência mais próxima da descrição de Piaget.

d) Espacial: capacidade de organização de si e do ambiente.

e) Corporal-Cinestésica: linguagem própria, sem palavras, mas que traduz as possibilidades do sujeito; forte poder de expressão.

f) Interpessoal: forma de inteligência mais voltada para a socialização; capacidades de liderança.

g) Intrapessoal: inteligência voltada para o autoconhecimento.

A aquisição da aprendizagem ocorre mediante a forma de inteligência mais adequada para cada um dos conteúdos a ser trabalhado num determinado momento. A retenção se explica pela validade do uso da inteligência mais adequada no processo de aquisição, o que sempre permitirá um domínio maior desse conteúdo específico. A transferência é realizada na medida em que as múltiplas inteligências se interligam, favorecendo o intercâmbio entre as possibilidades de aprendizagem.



Referências:
LINS, Maria Judith Sucupira da Costa. A aprendizagem. In: A aprendizagem e a tutoria. Rio de Janeiro: Senac, 2005.
MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986.
PIMENTA, Selma Garrido (Coord.). Pedagogia: ciência da educação. São Paulo: Cortez, 1996.
VYGOTSKY, Lev. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Livraria Martins Fontes, 1984.
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Atualmente  Emilia Ferreiro, seguidora de Piaget reestruturou o construtivismo dando uma nova releitura à essa teoria, tornando-a conhecida e seguida por vários educadores
Em breve dela no nosso blog.Vejam!!!

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